Autismo e Escotismo: um mundo de inclusão social - Escoteiros do Brasil
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Autismo e Escotismo: um mundo de inclusão social

1 março 2018

O Escotismo em Mato Grosso do Sul tem colecionado lindas histórias e contribuído com o desenvolvimento dos jovens de nosso Estado. Em Campo Grande, a família da Chefe Escoteira Maria Dorothea de Moraes é uma dessas histórias que nos marcam e vale a pena conhecer.

Formada em Pedagogia e Psicologia, Maria Dorothea sempre trabalhou com educação especial. Iniciou no setor de psiquiatria da Santa Casa Beneficente de Campo Grande, com adolescentes e depois atuou na Apae. Encantada com a neurologia buscou conhecimento nessa área e seguiu trabalhando com outros profissionais especialistas, deixando o mercado de trabalho com o nascimento de sua filha Camila, hoje com 7 anos.

Inclusão

Camila é autista, e a família sempre se empenhou no seu desenvolvimento e inclusão social, por entender e acreditar na importância desse processo para a menina. Maria Dorothea e o marido buscaram um local para realizar esse trabalho de inclusão, e o Movimento Escoteiro foi a escolha para a família. Mesmo tendo se decepcionado pela não acolhida no primeiro grupo que procuraram pela ausência de vagas, foram para o grupo Yasser. “Por indicação de Paulo Satyro fomos para o Yasser. E o Alexandre Caldeira, chefe do Grupo, nos recebeu com muito carinho, mas nos impôs uma condição: ele não teria como aceitar a inclusão dentro do grupo dele, porque ele não tinha chefes capacitados para isso. Mas, se nós quiséssemos, estávamos sendo convidados por ele”, conta Maria.

No início, apenas o marido seguiu no Grupo Escoteiro, entrando de cabeça nas atividades e Maria Dorothea passou a observar. “Pais de crianças especiais tem muito disso, a gente tem que sair da condição de coitadinhos, a gente precisa se abrir mais”, explica.

Proposta de Trabalho

Junto com o pai, Camila ingressou no grupo escoteiro e sua mãe, após um período de observação, fez uma proposta de trabalho para Akela (nome dado à Chefe dos Lobinhos), que na época era a chefe Nádia. “Aí eu desenvolvi o trabalho de inclusão social dentro do grupo, que foi os Defensores da Inclusão, que depois foi para a nacional e hoje, nós fazemos parte do Mensageiros da Paz, também com esse projeto”.

Maria Dorothea se aprofundou na literatura do escotismo e se encantou com a metodologia. “Eu ia trabalhar com um grupo, mas eu precisava saber como eu iria trabalhar. Então eu fui estudar. Comecei a ler e buscar e fui ver as normas que regiam dentro do escotismo, como era e aí eu me encantei com a metodologia do escotismo, eu fiquei apaixonada”.

Método Escoteiro

Psicóloga e pedagoga de formação, a mãe de Camila viu no método escoteiro um caminho para o desenvolvimento da menina. “É um método educacional maravilhoso, ele promove o crescimento da criança, o desenvolvimento da criança, através do adulto. Falei: nós temos a obrigação de desenvolver um trabalho lindo!”

Foi aí que Maria Dorothea teve a ideia de levar para o grupo uma atividade especial. “As crianças iriam vivenciar o dia a dia do deficiente. Todas as situações. O deficiente físico, mental, intelectual e emocional. E aí desenvolvemos esse trabalho dentro do grupo. Foi um trabalho maravilhoso, muito rico e de muita troca de experiência”.

Hoje toda a família, incluindo a irmã Valentina, de 9 anos, participa do Grupo Escoteiro Yasser. “As crianças se tornaram multiplicadores do processo de inclusão e nós fomos a instituições, onde realizamos esse trabalho de inclusão, sobre aceitar o ser diferente, em todas as suas situações e condições”.

Projeto de Inclusão

A aceitação e o sucesso do projeto fortaleceram o trabalho e em 2018 o trabalho terá continuidade. “Hoje, nós não temos apenas a Camila de autista no Grupo, nós temos um menino de 7 anos, também com autismo e ele tem objetivo vários progressos dentro do grupo. Questão até do toque, a gente desenvolve atividades relacionadas com o social, todo o momento a questão do abraço, do acolhimento, do receber o outro e ele está interagindo dentro do grupo e eu fico emocionada”.

A previsão é que os chefes também sejam capacitados para receberem essas crianças. “O início de tudo é capacitar os nossos juvenis, seja Lobinho, seja escoteiro, seja o Sênior, seja o Pioneiro. Nós temos que prepará-los para receber esse jovem que está entrando com essa deficiência para que ele seja acolhido. Aí deixa de ser exclusão. Eu digo que a inclusão, ela só é inclusão quando tudo se torna igual. Quando as diferenças se igualam”.

Maria Dorothea lembra que a inclusão precisa do seu tempo. “Esse é um ponto que devemos estar bem atentos. Não é fácil incluir, porque muitas vezes quem está de fora vê aquela criança passeando no grupo parece que nós não estamos dando a mínima bola, mas ela tem um tempo de aceitar aquele processo, porque também é tudo muito novo”.

Crescimento

Camila fez sua promessa no ramo Lobo e emocionou quem estava presente. “Ela falou toda a promessa. Fizemos a investidura, ela colocou os dedinhos na cabeça (dois dedos erguidos e três abaixados, encostados na testa) e um detalhe: ela fez a promessa dos Chefes, dos adultos, que é muito mais complexa. Mas, ela tinha observado e ela fez inteira a promessa. Então assim, ela compreendeu o processo”.

Emocionada, a mãe de Camila lembra que no dia chorou. “Ela entendeu o que estava fazendo ali. Ela não gosta que coloque nada nela e o chefe colocou o lenço nela. Camila olhou o lenço e apertou como que dizendo: ele é meu. E ela não permite o toque e ela deixou que isso chegasse até ela”.

Matéria produzida por Ana Rita Amarilia, da Região Escoteira do Mato Grosso do Sul

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